Pense nisso: é bom conseguir crédito, mas o ideal é não precisar dele. Quando o assunto é financiamento para o pequeno e médio negócio, avaliar a real necessidade de buscar um empréstimo para abrir ou ampliar a empresa é um dos pontos mais delicados e importantes para que ela comece bem ou continue de pé.
"A primeira pergunta que o dono de um pequeno negócio precisa ter em mente é se realmente é necessário procurar novos recursos para o empreendimento: o crédito viabiliza oportunidades, mas não as cria", diz Alexandre Guerra, analista de capitalização e serviços financeiros do Sebrae e autor da reflexão que abre essa reportagem.
O especialista cita dados de uma pesquisa de 2018 do Sebrae sobre o cenário de financiamento das MPEs para ilustrá-lo: enquanto só 23% dos pequenos negócios pegou empréstimos em bancos oficiais ou privados, mostrando aversão em buscar crédito por conta dos juros altos, outros 62% ou tiveram dificuldade em obtê-lo ou a solicitação foi negada.
Os principais motivos de recusa, segundo Guerra, acontecem quando o pequeno negócio não atende os "cinco Cs do crédito": caráter, capacidade (de pagamento), condições, capital e o colateral (recebíveis ou com aval de fornecedores).
"Muitas vezes, porém, esse não é um 'problema pessoal', mas de inteligência de mercado: se a empresa faz parte de um setor que passa por dificuldades e passou a dar muitos calotes - como aconteceu como o segmento calçadista, por exemplo -, as linhas de crédito são fechadas para evitar que essas dificuldades aumentem", explica.
Mas há uma dica de ouro: mudar o pensamento sobre empréstimos e financiamentos. "Crédito mais caro não existe. Sai mais barato fazer um bom planejamento, e usar recursos próprios para reinvestir no negócio", reforça Guerra.
A seguir, o Sebrae lista as 5 maneiras de ajudar os empreendedores a refletirem sobre o crédito:
1. PLANEJAMENTO É TUDO
A construção de um bom plano de negócios é fundamental para ajudar o empreendedor a avaliar sobre o momento correto para buscar o crédito e quais as modalidades mais adequadas ao perfil do negócio.
Também é importante certificar-se de todos os pré-requisitos necessários antes de tentar fechar o contrato, como garantias, contrapartidas, cadastros, documentos, fichas cadastrais, documentações específicas entre outros.
Segundo Alexandre Guerra, o que mais pega nesses casos são questões burocráticas: bancos têm uma série de critérios para efeito de análise e concessão que muitas vezes o pequeno negócio não está preparado para atender. "Se o cadastro está desatualizado, a dificuldade de acesso ao dinheiro obviamente aumenta", afirma.
2. VISÃO ALÉM DO ALCANCE
Fique atento, pois alguns cenários podem dificultar o acesso ao crédito, como a situação legal, contábil e cadastral da empresa (e do empreendedor); falta ou desatualização do orçamento relacionado aos investimentos; parcela de recursos próprios insuficiente ou inexistente; garantias insatisfatórias; falta de documentação legal e conflito de informações na elaboração do plano de negócios.
Grande parte dos micro e pequenos negócios se financiam com recebíveis e oferecem esse capital futuro como garantia, segundo Guerra. "Mas é uma questão de limite: muitas vezes o dinheiro que entra para essas empresas não é suficiente para fazer face às necessidades de giro ou outra natureza de investimentos", alerta.
3. EM BUSCA DAS MELHORES OPÇÕES
Ao invés do emprestimo tradicional, o capital empreendedor ou capital de investimento é uma alternativa utilizada para apoiar negócios por meio da compra de participação no capital de uma empresa, geralmente minoritária.
O especialista lembra que, no Sebrae, existem iniciativas que ajudam a preparar os donos de pequenos negócios inovadores para o processo de negociação com investidores, por meio de workshops e mentorias que ajudam a entender a lógica e os processos do mercado de investimentos de risco.
4. CONHECE A 'ESC'?
A Empresa Simples de Crédito, ou ESC, também funciona como uma alternativa de crédito para os pequenos negócios. A ESC realiza operações de empréstimos, financiamentos e desconto de títulos de crédito, exclusivamente para Microempreendedores Individuais (MEI), Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, utilizando-se exclusivamente de capital próprio.
"Essa é uma das poucas formas de empresa que concede crédito e que não necessita da autorização do Banco Central para funcionar - o que torna o processo mais simples e menos burocrático", afirma Guerra.
5. PERGUNTE A VOCÊ MESMO
Para que preciso do empréstimo? Quanto preciso de empréstimo? Como irei pagá-lo? Quando precisarei dele? Antes de buscar crédito, o mais importante, no caso das micro e pequenas empresas, além de fazer essas quatro perguntas, é entender que ter um plano de negócios para contratá-lo é fundamental, e deve ser respaldado por oportunidades mercadológicas.
“Financiamento é igual remédio: se não for bem dimensionado, pode não funcionar ou até matar. Por isso ele deve ser utilizado exatamente para aquilo que foi previsto”, finaliza o especialista do Sebrae.
Matéria retirada do Diário do Comércio - JORNAL DAS ASSOCIAÇÕES COMERCIAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO
Por Karina Lignelli 06 de Setembro de 2019 às 08:00 | Repórter lignelli@dcomercio.com.br